Bruna Beber

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Bruna Beber - foto: Elisa Mendes



paraquedistas

escrever é dedicar

os dedos à marcenaria

de qualquer jardim


desatamos as mãos

e a tontura que dá

vem do alto


o cair das nuvens folhas

passarinho avião papel

picado a lua no mar


silêncio de planta, euforia

de cama elástica, alegria

de piquenique no parque


e tanto carinho

guardo pra você

numa luva de boxe

- Bruna Beber, no livro "Balés".


A violência

vontade constante

de dizer te quero tanto

dela me distraio

mas você me abraça

e de repente todo

o mundo não tem

membros superiores

e então me beija

eu poderia matar

todas as plantas

tenho muito ar

até que sinto

na ponta dos dedos

a coragem de dizê-la.

- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA".


ludíbrio

vou enterrar cada parte

junto ao rasto impreciso

dos mínimos sinais


e sobre cada indício

construir um cemitério

de notícias


qualquer dia apareça

de surpresa

como um soluço.

- Bruna Beber, no livro "Balés".


o pecúlio

estou sempre indo ao seu encontro

chego de costas pra você achar que estou indo embora

saio de frente pra você achar que estou chegando

estou sempre perdido indo ao seu encontro


é assim a minha vida e o meu calendário

eu estou sempre indo ao seu encontro

não preciso ir mais longe pra saber

que estou sempre indo ao seu encontro.

- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA".


sonata

não me emociona o heroísmo

o que arranha as unhas nas paredes

do precipício deixo cair


a saudade que se sente,

o faz de conta, aquela fantasia

não me emocionam mais


meu coração parou de bater e agora

o que você chama de amor

eu não atendo mais

- Bruna Beber, no livro "Balés".





Bruna Beber Franco Alexandrino de Lima ( 05 de março de 1984, Duque de Caxias RJ). Poetisa e escritora brasileira.