Eliane Brum
Fátima CChaves
"Escrevo como se fosse música. As palavras para mim obedecem a uma composição imaginária, seguem uma melodia, eu tenho arranjos diferentes. Fico atenta para não usar os truques melódicos de sempre, me desafio, faço repentes comigo mesma. E, quando alguém mexe no meu texto, eu ouço e ele desafina. E dói o ouvido."
- Eliane Brum, em "O olho da rua – uma repórter em busca da literatura da vida real".
"Aprendi ali que ninguém é substituível. Alguns se tornam substituíveis ao se deixar reduzir a apertador de parafusos da máquina do mundo. Alienam-se do seu mistério, esquecem-se de que cada um é arranjo único e irrepetível na vastidão do universo. Quando a alma estala fingem não saber de onde vem a dor. Então engolem a última droga da indústria farmacêutica para silenciar suas porções ainda vivas. Teriam mais chance se ousassem se apropriar de sua singularidade. E se tornassem o que são. Para se perder logo adiante e se buscar mais uma uma vez, já que ser é também a experiência de não ser."
- Eliane Brum, em “Meus desacontecimentos – a história da minha vida com as palavras”.
"Sempre gostei de histórias pequenas. Das que se repetem, das que pertencem à gente comum. Das desimportantes. O oposto, portanto, do jornalismo clássico. Usando o clichê da reportagem, eu sempre me interessei mais pelo cachorro que morde o homem do que pelo homem que morde o cachorro – embora ache que esta seria uma história e tanto. O que esse olhar desvela é que o ordinário da vida é o extraordinário. E o que a rotina faz com a gente é encobrir essa verdade, fazendo com que o milagre do que cada vida é se torne banal. Esse é o encanto de A vida que ninguém vê: contar os dramas anônimos como os épicos que são, como se cada Zé fosse um Ulisses, não por favor ou exercício de escrita, mas porque cada Zé é um Ulisses. E cada pequena vida uma Odisséia."
- Eliane Brum, em "A vida que ninguém vê".
"Ora, quem sou eu? Não sei quem sou eu. E, quando penso que sei, me escapo. Alguém já conseguiu responder a esta pergunta com alguma quantidade razoável de certeza? Ainda assim, por não ter uma resposta fácil para uma pergunta que define as relações do nosso mundo, tornei-me um incômodo. Mas, como a questão é legítima, tenho me aprofundado nela."
- Eliane Brum, em "A prisão da identidade". revista Época, 29.11.2011.
"Minhas incursões no universo da morte me deram maior clareza sobre a natureza da vida. Algumas pessoas comentavam que eu devia ter algum problema para ser tão mórbida. Bobagem. Morbidez é outra coisa. Não se fala da morte por causa da morte, mas por causa da vida. Lidar bem com a certeza que todos temos de morrer um dia é fundamental para viver melhor. E para alcançar a matéria fugaz dos nossos dias."
-Eliane Brum, em “A menina quebrada e outras colunas de Eliane Brum”.
"Aprendi que vale a pena amar aquelas pessoas que, quando nos vimos nos olhos delas, temos vontade de ser alguém melhor do que somos. Elas veem não apenas aquilo que realmente somos, mas aquilo que podemos ser. Tudo aquilo de bom e de generoso que podemos ser. Não significa que não enxergam nossas imperfeições e mesquinharias, mas que veem além delas. Então, do lado de cá do espelho, ficamos desejando nos tornar o que vemos refletido lá."
-Eliane Brum, em “A menina quebrada e outras colunas de Eliane Brum”.
Mudar seu jeito de viver nesse planeta.
“A gente está numa super emergência climática, e precisamos sair disso rápido. Isso significa amazonizar-se, deslocar os centros do mundo. Colocar a Amazônia no centro é mudar o pensamento que vai liderar o processo, aqueles que há milênios vivem na natureza sem destruir a natureza. Não dá para olhar para a Amazônia, para as queimadas e pensar que é algo longe. O primeiro passo é se perceber conectado, a gente está em um momento limite e tem que fazer o que a gente não sabe, junto com os outros”.
-Eliane Brum, entrevista concedida a Mongabay
“O negacionista mais perigoso é aquele que acredita não ser negacionista. Aquela pessoa que reconhece o óbvio, o comprovado cientificamente, o que é visto e sentido a cada dia, como o aquecimento do planeta, mas segue vivendo como se a sua vida e a de todas as pessoas ao seu redor não estivessem letalmente ameaçadas. Neste momento, temos uma evidência brutal da força desse negacionismo no Brasil: do Norte ao Sul estamos cobertos pela fumaça de incêndios da Floresta Amazônica, do Pantanal, do Cerrado, da Mata Atlântica. Até monoculturas plantadas onde antes era Natureza estão queimando”.
-Eliane Brum,“Sumaúma Jornalismo”, em 02.09.2024
“É comprovado que a Natureza está muito mais protegida nas Terras Indígenas e nas unidades de conservação. Se ainda há Floresta em pé é porque existem essas áreas de proteção”.
-Eliane Brum, “Sumaúma Jornalismo”, em 02.09.2024
Eliane Brum ( nasceu no ano de 1966 em, Ijuí, Rio Grande do Sul). Jornalista, escritora e documentarista brasileira. Diretora de Sumaúma, autora de Banzeiro òkòtó e Brasil Construtor de Ruínas, colunista do El País.