Charles Bukowski

Fátima CChaves


Retrato em preto e branco do escritor Charles Bukowski, com barba e cabelos revoltos, olhando pensativo para a direita em frente a uma parede desgastada.

"Me canso fácil dos preciosos intelectos que precisam cuspir diamantes toda vez que abrem as suas bocas. Eu me canso de ficar batalhando por cada espaço de ar para o espírito. É por isso que me afasto das pessoas por tanto tempo, e agora que estou encontrando as pessoas, descubro que preciso voltar para a minha caverna."

— Charles Bukowski, no livro “Notas de um velho safado”.

"A vida é tão boa quanto a gente permite."

— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”.

Um poema de amor

todas as mulheres

todos os beijos delas as

formas variadas como amam e

falam e carecem.

suas orelhas elas todas têm

orelhas e

gargantas e vestidos

e sapatos e

automóveis e ex-

maridos.

principalmente

as mulheres são muito

quentes elas me lembram a

torrada amanteigada com a manteiga

derretida

nela.

há uma aparência

no olho: elas foram

tomadas, foram

enganadas. não sei mesmo o que

fazer por

elas.

sou

um bom cozinheiro, um bom

ouvinte

mas nunca aprendi a

dançar — eu estava ocupado

com coisas maiores.

mas gostei das camas variadas

lá delas

fumar um cigarro

olhando pro teto. não fui nocivo nem

desonesto. só um

aprendiz.

sei que todas têm pés e cruzam

descalças pelo assoalho

enquanto observo suas tímidas bundas na

penumbra. sei que gostam de mim algumas até

me amam

mas eu amo só umas

poucas.

algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;

outras falam mansamente da

infância e pais e

paisagens; algumas são quase

malucas mas nenhuma delas é

desprovida de sentido; algumas amam

bem, outras nem

tanto; as melhores no sexo nem sempre

são as melhores em

outras coisas; todas têm limites como eu tenho

limites e nos aprendemos

rapidamente.

todas as mulheres todas as

mulheres todos os

quartos de dormir

os tapetes as

fotos as

cortinas, tudo mais ou menos

como uma igreja só

raramente se ouve

uma risada.

essas orelhas esses

braços esses

cotovelos esses olhos

olhando, o afeto e a

carência me

sustentaram, me

sustentaram.

– Charles Bukowski, em “Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski”[tradução Jorge Wanderley].

‘EU TE AMO!’, ela disse.

‘obrigado’, eu disse.

‘é tudo o que você tem pra me dizer?’

‘sim.’

‘vá à merda!’ ela disse e desligou.

o amor se esgota, pensei...

— Charles Bukowski, no livro “O amor é um cão dos diabos”.

"Na minha próxima vida, quero ser um gato. Dormir 20 horas por dia e esperar ser alimentado. Sentar por aí lambendo meu cu. Os humanos são desgraçados demais, irados demais, obcecados demais."

— Charles Bukowski, no livro “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”.

Sozinho Com Todo Mundo

a carne cobre os ossos

e colocam uma mente

ali dentro e

algumas vezes uma alma,

e as mulheres quebram

vasos contra as paredes

e os homens bebem

demais

e ninguém encontra o

par ideal

mas seguem na

procura

rastejando para dentro e para fora

dos leitos.

a carne cobre

os ossos e a

carne busca

muito mais do que mera

carne.

de fato, não há qualquer

chance:

estamos todos presos

a um destino

singular.

ninguém nunca encontra

o par ideal.

as lixeiras da cidade se completam

os ferros-velhos se completam

os hospícios se completam

as sepulturas se completam

nada mais

se completa

– Charles Bukowski, no livro “O amor é um cão dos diabos” [tradução Pedro Gonzaga].

O Pássaro Azul

há um pássaro azul em meu peito que

quer sair

mas sou duro demais com ele,

eu digo, fique aí, não deixarei

que ninguém o veja.

há um pássaro azul em meu peito que

quer sair

mas eu despejo uísque sobre ele e inalo

fumaça de cigarro

e as putas e os atendentes dos bares

e das mercearias

nunca saberão que

ele está

lá dentro.

há um pássaro azul em meu peito que

quer sair

mas sou duro demais com ele,

eu digo,

fique aí, quer acabar

comigo?

quer foder com minha

escrita?

quer arruinar a venda dos meus livros na

Europa?

há um pássaro azul em meu peito que

quer sair

mas sou bastante esperto, deixo que ele saia

somente em algumas noites

quando todos estão dormindo.

eu digo, sei que você está aí,

então não fique

triste.

depois o coloco de volta em seu lugar,

mas ele ainda canta um pouquinho

lá dentro, não deixo que morra

completamente

e nós dormimos juntos

assim

com nosso pacto secreto

e isto é bom o suficiente para

fazer um homem

chorar, mas eu não

choro, e

você?

– Charles Bukowski, no livro “O amor é um cão dos diabos” [tradução Pedro Gonzaga].

"O oceano - eu disse -, veja ele lá, golpeando, arrastando-se para cima e para baixo. E embaixo disso tudo, os peixes, os pobres peixes lutando uns contra os outros, comendo uns aos outros. Nós somos como esses peixes, com a diferença de que estamos aqui em cima. Um movimento mal calculado e você já era. É bom ser um campeão. É bom conhecer os próprios movimentos."

— Charles Bukowski, no livro “Cartas na Rua”.

"– Alguma vez você já se apaixonou?

– Isso é para pessoas de verdade.

– Você me parece de verdade.

– Não gosto de pessoas de verdade.

– Não gosta?

– Eu as odeio."

— Charles Bukowski, no livro “Factótum”.

"Não quero ficar onde não sou desejado. Não quero ficar quando sinto que não gostam de mim."

— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”.

O Coração Risonho

Não deixe que ela seja esmagada na fria submissão.

Esteja atento.

Existem outros caminhos.

E em algum lugar, ainda existe luz.

Pode não ser muita luz, mas

ela vence a escuridão

Esteja atento.

Os deuses vão lhe oferecer oportunidades.

Reconheça-as.

Agarre-as.

Você não pode vencer a morte,

mas você pode vencer a morte durante a vida, às vezes.

E quanto mais você aprender a fazer isso,

mais luz vai existir.

Sua vida é sua vida.

Conheça-a enquanto ela ainda é sua.

Você é maravilhoso.

Os deuses esperam para se deliciar

em você.

-Charles Bukowski

“Todo mundo estava fodido. Não havia vencedores. Só vencedores aparentes. Todos nós corríamos atrás de nada. Dia após dia. Sobreviver parecia ser a única necessidade. Não parecia bastante. Não com Dona Morte esperando."

— Charles Bukowski, no livro “Pulp”.

Charles Bukowski (16 de agosto de 1920, Andernach, Alemanha - 09 de março de 1994, San Pedro, Califórnia USA). Escritor e poeta alemão que viveu e morreu nos Estados Unidos.

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